Oi, eu sou o Diogo Souza

Sou escritor e jornalista, autor dos livros Novo Rumo, Encontro com o Cara do Espelho, Sobrevivendo a um Relacionamento Abusivo e O Amor não é para Covardes (em reedição).

Adquira meus livros

Meus livros estão disponíveis na Amazon e nas principais lojas de livros do país.

(Cara do Espelho #10) O peso dos dias indefinidos: não eram só as gavetas quebradas

Neste texto, uma reflexão sobre um dia em que meu relógio girou para baixo, e foi necessário liberar o peso interno para que o amanhã me encontrasse de peito aberto e as costas livres de pesares




Acredito ser simbólico estar decidido a não colocar a cara pra fora de casa hoje, nem para o restaurante da esquina eu fui, tampouco para a sorveteria, sequer cogitei aceitar o convite de caminhar com um amiga querida. A sensação é que preciso ficar em casa, uma vontade de não ir além do meu portão, um desejo por permanecer onde e como estou. Sou caseiro, isso não é novidade, mas há dias como o de hoje que ficar em casa e ficar quieto é uma necessidade.


Após muitos e bons dias de “alta”, hoje meu relógio rodou para baixo e, por ter aprendido a reconhecer esse momento, decidi não empreender uma batalha contra esse moinho. Fiz pouca coisa, fiz o que pude e o que a disposição me permitiu. É uma sensação de quase. Não chega a ser tristeza, é quase. Não chega a ser desânimo, é quase. Tudo muito esquisito de sentir, pois é pura indefinição.


E, sendo um estado tão indefinido, estou conscientemente deixando-o passar. E é de meu interesse que ele passe, pois, nas últimas semanas, tenho realizado algumas pequenas tarefas de maneira consciente no sentido de preencher de vida a minha vida. Surpreendemente, a academia tem sido uma válvula de escape, geralmente a primeira tarefa do dia que me motiva a realizar outras coisas. Os resultados do esforço começam a aparecer em pequenas mudanças em meu corpo e sinto que posso ir além quando persisto.


Então, chegar nesse momento indefinido me é interessante para avaliar o quanto de minha autossabotagem pode estar por trás desse estado de baixa. Ou se ela está disposta a segurar essa emoção por mais tempo do que deveria.


De fato, tenho realizado algumas coisas, mas asseguro que estou consciente de muitas outras que insisto em deixar de lado. Prefiro pensar que estou ajeitando as coisas, uma de cada vez. Assim como consertei as gavetas da casa, mas fiquei devendo a reforma do fundo do guarda-roupas. Ou como quando coloquei fixadores no colchão que estava deslizando, mas não parafusei a cabeceira da cama.


Estou me obrigando a fazer muitas coisas e me permitindo postergar outras, pois sei que não vivo uma vida perfeita e que nem tudo é, por muito tempo, como gostaria que fosse. Creio que uma solução por vez seja melhor do que uma pilha de problemas se acumulando e me sufocando pouco a pouco.


Estou há cerca de duas semanas sem terminar um texto para a newsletter porque não o considero fácil fazer, pois, diferente de outros, não foi uma escrita parida e urgente. Está sendo uma escrita lapidada. Parece que minha mente se recusa a enfrentar esse tipo de dificuldade diluída, talvez porque eu tenha me acostumado a ter soluções práticas e imediatas para quase tudo (não estou dizendo que sejam sempre boas e realmente eficazes, mas são soluções).


Escrever essa carta não tem o propósito de narrar e fechar nenhuma história recente de minha vida. O propósito dessa escrita é meramente o de ser um saco de pancadas, onde eu possa acertar os golpes que minha mente inquieta tem para o mundo, mas permanecem engasgados. Precisam sair para que as surpresas do amanhã que possam vir e me encontrar de peito aberto e costas livres de pesares.


Carta dominical escrita em 09 de março de 2025


Pra sustentar a aura:

Ilustração:

A capa da semana é uma arte do pintor surrealista russo Gennady Privedentsev, é possível visualizar algumas de suas obras neste link.


Versos:

Quando chegar, não mais eu estarei

Apático, em parte lá

Tão ávido a esperar

Eu ficarei só a cantar

Trecho de “Levo minha vida assim”, de Monique Kessous

.

 

Diário de Bordo

Receba reflexões, bastidores da escrita e novidades diretamente no seu e-mail. Inscreva-se na minha newsletter e faça parte do meu trabalho.