Conversando com meu psicólogo, fiz um retrospecto de minha história recente a respeito de processos internos relacionados a cansaço, desgaste, barreiras e travas emocionais que tenho percebido. Já são muitos meses que me encontro em processos estranhos de autodestruição e, ao mesmo tempo, reconstrução, numa dinâmica complicada que se soma um estado de paralisia deprimida. 


Há alguns meses, percebi minha existência atual como se passando dentro de uma grande casa. Em cada cômodo desta casa, está um aspecto da minha vida, da minha personalidade, da minha rotina. Ao longo do tempo, sentimentos complexos atrelados a uma ansiedade, medo e culpa foram me fazendo apagar as luzes, cômodo a cômodo, de modo que, em dado momento, a casa ficasse quase que na total escuridão. A sensação é que fui me enchendo de vazios ao ponto de não sentir que não havia mais espaço para mim diante do medo do inseguro e da escuridão. 


Me tornei especialista em me apagar. Em deixar tudo de lado. De repente, tudo que havia sobrado era o trabalho e alguns cômodos a meia luz na casa da minha vida. 


Ser workaholic nunca foi meu objetivo, nem foi uma decisão pensada, planejada. Era mais fácil lidar com trabalho e uma lista interminável de tarefas do que me cuidar, me dedicar ao que eu gosto. Mas tanto vazio uma hora cobra espaço. 


Falei diversas vezes que sentia minha mente como sendo a sala deste grande casa da minha vida. Era como se eu apenas ocupasse uma cadeira num canto qualquer daquela sala escura e visse tudo acontecer em minha vida com tamanho distanciamento e falta de interesse que eu nem chamaria isso de viver.


Ao notar meu apego a esta analogia da casa, meu psicólogo resolveu me sugerir que eu levantasse desta cadeira e acendesse uma luz. Primeiro, a luz da sala. Depois, a luz do cômodo mais próximo. E, depois, de outro e de outro cômodo. Como fazer isso? Acrescentando pequenas tarefas que me fizessem bem. Cada tarefa foi como um ponto de luz rompendo o breu que minha vida estava se tornando. Este texto é uma delas.


O processo, obviamente (e posso usar o gerúndio), não está sendo linear. Há dias em que a luz está mais forte, há dias em que ela está fraca e oscilante. Há dias que me levanto e passeio pelos cômodos, assim como há aqueles em que torno a me sentar e apenas evitar o que há na próxima porta. 


O mais recente ponto da terapia foi perceber que a escuridão na casa não era mais intensa, que ela podia ser superada. Que novas luzes poderiam ser acesas por ali. Mas não as acendi ainda. E esse é o questionamento chave: por que não levantar e acender novas luzes? Porque não descobrir novas formas de iluminar a vida? 


Eis que, deixando um pouco a analogia da casa, percebo que me encontro como o texto de uma página ou capítulo que já acabou, mas que, por alguma razão, não se finaliza. É como se tentasse evitar a quebra de página, o final e o recomeço. É como se reticências aparecessem na tela indicando que estou digitando, mas o texto nunca chega. Um estado de reticências…